O jogo das
interrogações
Pergunto-te o que é o amor? E tu
dizes-me que
o amor é perguntar-se por ele, e é
a dúvida que entra nessa pergunta
a que
me dás a resposta, e a certeza
com que devolves a minha
dúvida.
Acredito em ti. Nem o amor permitiria
outra coisa, nem conheço
outra fé capaz de
misturar dúvida e certeza, ou se haverá
mãos mais
hábeis do que as tuas para
fazer essa alquimia de corpo e alma.
Tenho,
então, de saber que não pode ser
senão assim. A crença no teu amor só pode
nascer
do meu amor; e se trocamos perguntas e
respostas, como trocamos
sentimentos e olhares,
é porque o amor é um jogo de
interrogações.
Afinal, dizes-me, sabias o que é o amor? E
eu respondo
que não conheço as regras desse
jogo; que és tu quem tem as peças e o
tabuleiro
onde nos procuramos, mesmo que já nos tenhamos
encontrado, no
abraço em que tudo acaba e começa.
Gosto destes jogos em que já se sabe
quem
vai ganhar. Eu ou tu?, qual das peças
avançará primeiro? Pouco
importa, no fundo. A
minha dúvida nasce da tua certeza, como a
resposta
que me dás é esta dúvida que te devolvo.
Nuno Júdice in Cartografia de
emoções
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